Saturday, June 16, 2007

“Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachadoPara fora da possibilidade do soco ;Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigoNunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”



Com Cheiro De Flores

Estou em um campo de concentração.
Pessoas batem as cabeças agora.
É hora do almoço.
Nenhum pai, avó, irmã me chama.
Nenhum amigo faz meu corpo ter força agora.
Pessoas batem as cabeças.

Estou sentada no vil e disforme colchão
Olhando tua foto, meu precioso bem.
Repouso feliz em teus sonhos esta noite.
Chegam roupas novas de tempos em tempos,
Mário, Luís, João, Clementina, Carlos.
Que pena.

Sonho com tua boca; mesmo com olhos abertos
Me vem a cabeça como estarão teus bracinhos.
Gorduchos olhinhos brilhantes, cheios de esperança.
Vai ter um mundo a tua frente para conquistar.

Quando voltar eu comprarei lindos vestidos,
Quando voltar dançaremos juntas no parque,
Quando voltar eu sorrirei bem ao teu lado,
Quando voltar eu terei teus olhos enfim.

Contudo as noites não morrerão,
Sonhos quando vêm, não se vão;
Passam por qualquer barreira,
Até mesmo a humilhação.

Com todo esse espetáculo, minha cabeça
Embriaga-se de poesia de novo.
Mas sei que ergueremos no patamar nossas
Paredes sólidas, sem gravatas marcadas.

O sinal tocou, acabou o almoço.
Acho que demorei demais para cortar tão certinho
As últimas linhas, só por tentar desenhar.
Agora vamos tomar banho,
Mas logo voltarei para terminar...




Menina, agora quem fala é uma grande amiga: Joana.
Sua mãe não voltou do banho, ao invés de água, hoje foi gás. Mas saiba que ela estará sempre presente.
Não se preocupe. Não sei fazer nada como isso para terminar com minhas palavras o que não comecei. Mas, como amiga, envio-lhe a última lembrança. Boa sorte na vida, pequenina. Espero que seja tão linda assim e que nunca deixe seus sonhos morrerem pelo medo do fracasso.

De tua mãe e uma amiga que nunca conhecerá.
Viva!

Sunday, June 10, 2007

Que Paz


Mas ‘você e eu’ já é tão grande,
Tudo já é tão nosso.
Tanta coisa que eu não fiquei esperando passar...
E por entre os cercados as flores crescem
Sem o mal do tempo,
Sem a clareza do sol
Nem a pressa das pessoas.

E qual o sentido de qualquer palavra
Se não apenas ser melhor quando não dita,
Já que tudo que falas é o que sentes?
Ai, ai...
Ai, meu Pai...
Dai-me a paz...

Na noite serena, brotar frutos de laranjeira.
Quando no nosso olhar, brilhará a prata da semente,
Cheia de vida, cheia de morte.
E tudo passa a ser de verdade,
Sem rimas para suportar qualquer beleza,
Sem descaso para sufocar qualquer insanidade de felicidade.

Liberdade. Sem abrir os olhos
Vi seu sorriso. Como que naquele momento de sofrimento.
Então tira o que pode,
Leva o que me prende,
Ai, ai...
Ai, meu Pai...
Dai-me a paz...

Nem todo tempo é tão curto,
E 'pra sempre' pode existir...
Gosto de romãs, sabor de fruta melada cheia de caldo
Escorrendo pelos dentes, mas nada se perde
Na mesma noite serena que irriga nossos pecados
Ai, ai...
Ai, meu Pai...
Dai-me a paz...
Menina de olhos oceânicos

Eu quero saber se posso domar o mundo
E desafiar o tempo com minha espada de madeira;
Rebater os medos com socos e garras.

Eu quero saber quantas vezes mais direi adeus,
Por quanto tempo vou ficar chorando,
E até, se vai doer muito quando eu tiver de lhes dizer adeus.

Eu quero saber se você vai um dia reparar no meu peito.
Nesse corte aberto que ficou preenchido com pó
De estrelas que abriram meu céu e o rasgaram em dois.

Eu quero saber dessas pessoas que vagam entre minha vida.
E quantas vezes mais vou acabar por machucá-las?
E até quando elas vão conseguir me escutar?

Eu quero saber dos transeuntes que se esbarram
E não vêem a cidade ao seu redor, poderei ajuda-los?
Mundo de hipocrisia coberto de agnosis.

Quando, quando eu vou ter de fato uma verdade sobre tudo?
Como eu posso ter certeza do que faço?
Será que estou todo contido em uma célula?
Por quantos universos estou presente e como pode
O passado o presente e o futuro estarem acontecendo ao mesmo tempo?

Quem sou eu? Quem sou eu?
Eu só quero saber se um dia vou conseguir te ter
Em meus braços para que não me preocupe mais
Com perguntas que não acharei respostas;
Para que possa seguir com calma meu mal traçado rumo.

Se um dia achei que andariam separados e paralelos tais sonhos,
Agora acredito que são incapazes de se soltarem.
Porque a paixão se entrelaça com os desejos desapropriados de um coração
E faz mover a roda gigante que gira, gira, gira...
Gira mundo, gira tudo, tudo...