Friday, June 12, 2009

...

O Cão


O cão, tão bobo, se distrai
Com pequenas coisas
E pede somente atenção.
Se o atencioso soubesse do perigo
De se ter um fã tão voraz
Como o cachorro,
Talvez negasse o carinho corriqueiro.

O cão, tão bobo, se leva
Pela mão que o acaricia
Sem planejar a Sorte por vir.
Se entrega ao prazer fugaz
De um cheiro bom e
Se o agradam com o diferente,
Como comida de verdade,
O cachorro pula e late de felicidade.

O cão, tão bobo, não tem a malícia
Do gato!
Mal chega um atencioso novo
E ele dispõe sua barriga.
Afagos e mais afagos.
O cachorro foi logo comprado.

Mas, no fundo,
O cão sabe que aquilo é só um flerte.
Sabe que a visita se vai.
E retorna ao amor pelo seu dono.

O cão, tão bobo, se interessa
Pelo dono até quando ele o despreza.
Busca carinho, atenção.
E fica ao lado esperando ser notado de novo.

O cão, tão bobo,
Corre atrás do próprio rabo.
Mas o que pode ele fazer
Se o rabo faz parte dele?

Quem explica?...

Casa

E antes que tudo se queime, eu busco nessa casa antiga os retratos que eu tenho,
As fotos que irão calar tudo que vem me atacar.
E por mais que eu tente não consigo perder a chave dessa porta.
Então, me diz como você conseguiu mudar as minhas coisas de lugar,
Esse era meu lugar e ninguém mexia nele.
Me diz como você conseguiu conhecer tantos armários e gavetas.

E meu cobertor ainda está com o cheiro do perfume que eu te dei.
E meu casaco ainda guarda o bilhete de amor que você me deu.
E minha sorte ainda guarda o brilho dos olhos teus.
E minha calma ainda ainda vive pelos teus sussurros ao pé do meu ouvido.

Mas esse era o meu lugar e falta alguma coisa.
Essa parede não era assim.
Esse vaso não é daqui e essa flor está murcha.
Falta alguma coisa por aqui.
Por que você não está aqui?

Eu sou você e teu corpo respira pelo meu;
É meu o teu sangue e é seu o meu destempero;
É minha a tua boca e é seu o meu peito.

Essa casa antes era só minha
E agora que ela é tua também
Você partiu.

Mas se a cruz que você carrega é pesada,
Eu te levanto e resguardo, mesmo assim.