Tuesday, December 28, 2010

Meus dois músicos brasileiros vivos favoritos: Nando Rei e O Teatro Mágico.
Só para dizer...

"Olhe bem no fundo dos meus olhos
E sinta a emoção que nascerá
Quando você me olhar.

Desculpe,
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo...

Por onde andei
Enquanto você me procurava?
Será que eu sei
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava?

O sonho parece verdade
Quando a gente
Esquece de acordar

Quando o tempo não passar, dentro de nós
Cada hora é como uma semana,
Cada novo alô é mais bacana,
Cada carta que eu nunca recebo
É sempre um motivo pra lembrar,
Sou tão perto de você...

O universo conspira a nosso favor
A conseqüência do destino é o amor,
Pra sempre vou te amar.
Mas, talvez, você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro,
Te amarei de janeiro a janeiro,
Até o mundo acabar

Espero que o tempo passe,
Espero que a semana acabe,
Pra que eu possa te ver de novo...
Espero que o tempo voe,
Para que você retorne,
Pra que eu possa te abraçar...
Quando alguém se machuca, dentro de nós
Toda culpa parece resposta,
Nossa busca não parece nossa.
Quando a paz se anunciar, dentro de nós
É porque aquilo que nos cega
Mostra um outro lado para a moeda,
Que não apaga as coisas do meu peito.
O preço é me fazer acreditar,
Sou tão perto de você

Sobra tanto espaço
Dentro do abraço,
Falta tanta coisa pra dizer
Que nunca consigo..."

Sunday, November 07, 2010

Em memória.

Já perguntei para Deus muitas vezes o que seria justiça? O que seria justo? Afinal, vejo tantas coisas acontecerem da forma errada... Ele ainda não me respondeu, mas espero que esteja ouvindo minhas preces...

Há quase dois anos atrás, chegávamos na Faculdade de cabeça erguida.

Passamos para Medicina!

Passamos para a UFF!

Aos poucos, fomos nos conhecendo, somos 80 alunos e isso leva algum tempo para acontecer. Aprendemos os trejeitos, manias e frescuras de cada um. Formamos nossos grupos de afinidade e, ainda que com tanta diversidade, fizemos uma turma unida. Resolvemos então nos batizar de Caldeirão – mal sabíamos o significado que esse nome tomaria.

Desse grupo de alunos, me cabe, infelizmente, falar de uma em especial.

Há mais ou menos um ano atrás, nossa companheira de sala XX descobriu possuir uma das mais temidas doenças que nós vamos estudar, o câncer. Exaustivamente vamos falar sobre formas e mais formas de câncer só para descobrir nossa pequenez, nossa incapacidade diante de tantas formas de sofrimento humano.

Hoje, vi pessoas perdidas, ou melhor, imersas em emoções após saberem da notícia do falecimento da Alessandra. Essa tristeza, pronunciada em lágrimas e passos desaprumados, deve ser revisitada só para que lembremos seu motivo de existir...



Somos como quadros de Picasso, rostos e corpos sem uma forma muito bem definida, almas que se completam com cada pessoa que passa pela nossa vida. Como fractais, essas pessoas que rabiscam a nossa existência são capazes, se tivermos sorte, de nos deixar uma memória, uma importância e uma necessidade infinita.

Não duvido em nenhum instante que a XX tenha feito isso com inúmeras pessoas que passaram por sua vida.



Enquanto suas amigas ajudavam a chuva que caia do céu a ter mais água quando chegasse ao chão, percebi mais uma vez como é triste a perda... O que se deve falar nesse momento?... Meus pêsames?... Se não sei reagir diante dessas amigas, o que poderia dizer para a mãe ou qualquer outra pessoa tão importante?...

Bem, não há muito que se possa dizer, às vezes a ordem da despedida é alterada e não conseguimos fazer nada além de desabar em braços que esperamos que nos agüentem.

Porém, foi vendo o pranto daquelas meninas que percebi, além da tristeza, a beleza.

Havia naquele choro a beleza do cuidado, a beleza da fraternidade, a beleza do amor. Sem dúvida, havia uma paixão incontrolável, que misturada com sal e água, se faz passar por tristeza somente. Mas o motivo daquele choro não era a dor, o motivo daquele choro era algo muito maior, muito mais significativo. A dor vai embora, afinal, quantas vezes já nos machucamos? O que nos faz de fato fracos para a despedida é o amor...

Por isso, queria escrever algo hoje... queria lembrar àqueles que choraram e chorarão que se sentem uma dor angustiante, é porque vocês amam demais. É esse amor que imprimirá nos seus peitos a saudade. E é essa saudade que eternizará a nossa companheira.



Se nos fizemos um Caldeirão é só porque é preciso uma panela gigante para abranger tantas personalidades, tanto companheirismo. Na lista de ingredientes imersos nessa caldeira, agora faltará um. Mas, como com o sal, só uma pitada de alguns ingredientes é suficiente para fazer do gosto algo completamente único.

Levaremos para frente o nome de nossa amiga XX e lembraremos de guardar um lugar para ela junto aos primeiros bancos daqui a quatro anos.

Hoje, minha prece é para que haja paz para essa menina, independente do que isso quer dizer para cada um, e para que haja força e calma para aqueles que agora possuem o amor e a saudade em seus peitos.





Que as lágrimas não nos enganem...


Monday, October 04, 2010

"Senti sua falta
Antes de saber
Que era você
O lugar pra me esconder"

"Quando não estás aqui
Meu espírito se perde
Voa longe"

Sem título

I
A menina rabiscava papéis
A menina batia teclas
Contos cantados ou não
Faziam suas janelas ficarem encortinadas
Por que se deixaria um quadro para trás
Não entendia
Se se podia caminhar em pares
Por que partes partem
E portas batem
O caderno lhe restava
O caderno como um soldado
Guardava seu palácio
Um castelo de emoções
Tão sensíveis que era como de cartas
Caía e levantava toda hora
Mas o baralho não era mesmo
Mas o barulho não era o mesmo
Pobre do caderno suas folhas
Choradas chamavam sem vós
O bobo sentia falta da fada
Sua boca costurada pelo
Orgulho infantil ou medo adulto
Murmurava fantasias
Ela nada escutava

II
Como o motorista pode imaginar
Bater de frente ao ultrapassar
Cada um em sua via
Não se via, não se assobia
Enquanto não se está
Mas quando se volta
Não se deixa um adeus jamais
Pois a raposa te lembra da
Verdade adormecida tempos atrás
Se chocaram e assim
Chocaram um ovo
Guardando algo que a
Língua se enrola ao falar

III
O arlequino esperava
Dava fio ao tempo
A aflição era só porque sabia que
O fio é um só e a
Qualquer hora uma das três velhacas
Podem-no cortar
Respirava diante do espelho
Jamais embaçava sua imagem
Queria ser visto só pelas verdades
Guardara aquele local
Guardara aquele sol
Guadara aquela entrega
Tudo para ela
Guardara sem nunca cogitar mencionar
Mas quando era sua a fala
Viu a antiga mala
Cheia de blusas, mudas
Surda
Cega
Sem ser muda
Ela falava ao léu - se fosse a um Léo
Causaria menos estrago
Talvez

IV
Não esperava tanto cacau
O doce era para ser doce
Pena a realidade não
Realiza tudo que precisa
Entre tanto que se sentia
Algo ardia e algo
Entretanto sorria
Se não era o que se queria
A pretensão ainda não espantava
O encanto que havia
Naqueles dois
Por magia o sorriso arlequino
Brotava sem mascarar
Seu nariz já sentia o sereno
Mas a boca não se importava
Pois para ela aqueles dois
Em um só se conjugava
Não importava como
O nós era natural
Um pedido que
Aquelas almas faziam ansiavam queriam sentiam

V
Calma.
Se olha no espelho.
Calma.

Tuesday, August 17, 2010

Em postos de saúde, algumas coisas fazem sua mente rodar...

"Aspire os meus erros e os jogue fora
Limpe os vestígios, lustre os absurdos
Com esforço, talvez se tornem glórias" (Poema da Batalha - Transmissor)


Sabe aquela pessoa que construiu tantos momentos na sua vida? Sabe aquela pessoa que te dá colo enquanto vocês estão deitados só com uma leve luz acesa? Sabe aquela pessoa que te abraça tão firme que você ganha coragem para qualquer coisa? Sabe aquela pessoa que entrelaça teu estômago quando dá um nó na tua mão? Sabe aquela pessoa que acerta a surpresa que você adoraria ter de aniversário? Sabe aquela pessoa que desistiu de momentos sozinhos só para estar com você? Sabe aquela pessoa que acordou de madrugada e correu até sua casa só porque você ligou soluçando? Sabe aquela pessoa que não te deixa dormir com a cara amarrada? Sabe aquela pessoa que te disse para fazer aquilo que fazia suas pernas tremerem? Sabe aquela pessoa que te viu gritar quando você passou no vestibular - e gritou junto? Sabe aquela pessoa que fazia seu almoço enquanto você fazia um trabalho? Sabe aquela pessoa que dá o braço a torcer só para te fazer sorrir? Sabe aquela pessoa que te chama para dançar quando toca uma música boa no rádio? Sabe aquela pessoa que não se importa de chorar na sua frente? Então, doutor... sabe quando ela pára de fazer isso? O que é que eu faço?

Sunday, July 11, 2010

"My love is so articulate
My heart is such a mess"

Escolhas

Ainda hoje pensarei
Mais uma vez em você

Olho no espelho
Para não ter que me virar
Encarar o passado
Sou covarde
Por ser confuso

Olho no espelho
Tudo atrás de mim
Vejo embaçado
Estou sem óculos
Não acho que fariam diferença
Bambeio dentro de mim

O espelho me diz
Para sentir
Não tenho resposta
Apago as luzes
Corro

Corro em direção
A alguma coisa
Que dê à minha aflição
Morte súbita
Que a troque por outro
Tipo de angústia

Enquanto a luz clareia
Minha visão fica em penumbra

Uma foto a mais
Se faz

Tolice
Achar saber algo
Tolice
Achar que tudo se encaixa
Tolice
Achar que uma mão
Te dará a
Firmeza para o coração
Tolice
Enfim, tolice...

Se a mão não
Se estende
A firmeza
Se cria
Se os olhos se nublam

Tuesday, June 22, 2010

Durante um conversa na Faculdade...

- Pensa em um momento bom da sua vida e me diz alguma coisa que está nele.
- Um ônibus.
- Uma faixa etária.
- 19, 20 anos.

O ônibus (trechos)

Talvez, nos forcem a ir para a escola somente para que convivamos com outras pessoas além da nossa família. Afinal, são tantas coisas que aprendemos para não usar, nem sequer lembramos de tantas outras.
Bem, Pedro não sabia ao certo por que acordava todo dia às cinco horas e trinta minutos da manhã, mas fazia isso há tanto tempo e tantos o mandavam continuar fazendo que mantinha seu hábito.
Seus sonhos sempre terminavam com um grande terremoto. Conforme seus olhos se abriam via aquela mãe (impiedosa) o balançando e dizendo "Deus ajuda quem cedo madruga!" Ainda sem forças para dizer qualquer coisa, só pensava "Deus... humpf!" Ora, se Deus quisesse que acordássemos tão cedo assim teria feito alguma coisa dentro de nós para que nos colocássemos de pé assim que o sol encostasse em nossas pálpebras. Mas logo após se desculpar com o do andar de cima, dirigia seus xingamentos a Getúlio e se punha de pé.
Enquanto tropeçava em móveis da casa , se dirigia ao banheiro e abria chuveiro. Ah, agora sim começou o dia! Seus olhos estavam abertos e não mais levaria sua canela até a fria madeira daquelas mesinhas, cômodas e cama enquanto caminhava de volta para o quarto.
Vestindo sua roupa, ouvia sua mãe gritar que ele havia molhado a casa inteira. Gostava de implicar com ela e depois roubar-lhe um beijo e um abraço antes de ela - com um sorriso de dois andares - reclamar de seu bafo matinal.
Já atrasado, corria de volta ao banheiro, escovava seus dentes e se perfumava para sair correndo de casa e ver o ônibus ao longe se aproximando de seu ponto de parada. Era esse pedaço da manhã que ele mais gostava. Respirava fundo e dava um último pique na sua corrida para alcançar o ponto e já arfando e estendia o braço. Agora era Pedro quem abria um sorriso enorme. Desejava um bom dia ao motorista e passava pela roleta antes de alcançar com os olhos outro grande sorriso estampado em um rosto.
"Sempre chega suado, garoto..." era o que Júlia lhe dizia a cada dia de um jeitinho diferente. Ela nem estudava com ele, mas se conheceram por acaso em um dia chuvoso - sempre se deve andar com um guarda chuva, dizia sua mãe - e desde então conversavam durante seus caminhos cotidianos, já que seus pontos de parada não eram muito distantes.
É... definitivamente, a escola serve para nos fazer conhecer outras pessoas...
A conversa entre os dois fluia fácil por temas pessoais, filosóficos, capas de jornais e devez em quando Júlia até o ajudava com a maldita matemática. Porém, ao mesmo tempo que as palavras não se continham dentro de suas bocas, e assim sempre queriam o fazer, às vezes os dois se calavam e um estranho silêncio era criado naquele ônibus. Os dois não sabiam ao certo como agir mas logo o balanço do ônibus os punha tão próximos que as palavras se desengasgavam.
Aquele chacoalhar do ônibus era a dança cotidiana dos dois. Provavelmente, não há um casal que dance valsa ou tango todo santo dia, mas há vários que bailam de acordo com os motoristas dos coletivos. Dependendo do motorista, até sambam.
Após ser interrompido por professores, Pedro ajeitava seu cabelo e partia para o pontode ônibus, animado com o reencontro.
Assim seguiam seus meses letivos até que em certa semana Júlia se comportou tão diferente... Pedro não entendeu muito bem o olhar distante de Júlia, parecia tão triste, mas se recusou a falar o motivo daquele silêncio cabisbaixo. Ele tentava de tudo para animar amiga, criava até dúvidas de matemática que ele não tinha. Isso sempre a colocava para cima, mas dessa vez não surtiu efeito...
Foram quatro dias de angústia constante. No último dia da semana, Pedro decidiu se sentar em outro banco. Sem Júlia. Achava que tinha perdido seu charme, tornara-se chato e sem graça para amiga; e o pior era que não entendia o motivo disso. Júlia o olhou distante dela, conterceu o rosto e se sentou ao lado dele. Olharam-se nos olhos e ela disse um "não" tão carinhoso enquanto pegava a mão dele que quebrou todas as defesas que Pedro havia preparado.
Como homens são burros, tudo fazia sentido agora. Aquela mão estava tão quente e nervosa que se sentia até mesmo o coração batendo quando se tocava ela. Só não era possível dizer de quem era essa mão.
Pedro fechou seus olhos e se aproximou de Júlia calculando os segundos que demorariam até que seus lábios se encontrassem. Errou o cálculo. Esquecera que a dança do ônibus os anteciparia. Separaram-se e riram um do outro antes de voltarem a se beijar.

Sunday, June 20, 2010

Boa partida, Saramago... fará falta...

Uma Rosa

Certa vez, minha vó me contou uma história de um menino por volta da minha idade, com cabelos mais ou menos como os meus...
Esse garoto andando certo dia pela rua se deparou com um jardim lindo. O problema era que esse jardim estava cercado por grades e para entrar devia pedir permissão. Passou a pegar aquele caminho com mais frequência, até que se percebeu indo lá todo dia depois da escola. Só para sentir o cheiro daquelas flores. Só para ver aquele quadro tão bonito, que a cada dia se mostrava de um jeito.
Mesmo que passando por ali demorasse mais para chegar em casa e ouvisse sua mãe reclamando, vez ou outra, sentia algo mais forte, algo que o levava para lá.
Foi exatamente isso que um dia fez pular da boca dele "mãe, me deixa entrar naquele jardim?" O engraçado foi que ele nunca esparava que sua mãe, segurando-o pela mão, fosse levar seu pequeno corpo tão amedrontado até lá. Aquela mão lhe deu tanta segurança. Mal sabia ela o medo que ele sentia daquele jardim. Um medo que existia sem motivo a não ser pelo medo que nós temos de tudo que é maior que nós mesmos.
Enquanto dava os primeiros passos por aquele jardim tão grande, logo se deparou com uma flor que lhe chamou atenção.
Era uma rosa. São sempre as rosas. Essas danadas que simplesmente exalam perfumes...
Aquela rosa possuia pétalas tão simples e tão bem arrumadas. Formavam um desenho lindo. E possuiam tanta cor! Ah, era um rosa tão único que nunca antes lhe havia passado na cabeça que o rosa podia representar tão bem a vida. O menino logo se apaixonou pela rosa.
Esperava, então, o tempo passar para se encontrar com ela.
Aos poucos, ela foi se apaixonando também e os dois brincavam de trocar carinhos e delicadezas, olhares e anseios. Cada um da sua forma, dizia para o outro tudo que se pode ser dito.
(...)
Mas como ninguém conseguiu segurar o tempo ainda, a rosa foi se tornando vermelha e o menino foi se tornando complicado.
Quando ele viu de novo aquela rosa, não teve dúvidas ao a reconhecer. Podia ter mudado de cor, mas era a mesma rosa de antes.
Então, o menino se deixou levar pela sua vontade cega e foi logo abraçando a rosa em seus dedos enquanto a puxava para fora do jardim. A rosa resisitiu o tanto que pôde para sair da terra e quando não aguentou mais acabou por furar o dedo do menino.
Ele, com uma lágrima no olho, não entendeu por que a rosa o deixaria chorando. Voltou para casa correndo e se escondendo da mãe foi se olhar no espelho. Talvez tenha se encarado por um minuto, talvez tenha se encarado por umas horas. O fato é que logo em seguida ele saiu em mais uma disparada para o jardim. Procurou sua rosa e demorou até a encontrar.
Ela estava se escondendo. Sem uma pétala, ela não queria mais os carinhos do menino. Ele tentou explicar, falou que seus carinhos eram honestos e sinceros, que todos cometem enganos. Ela não ouvia, só conseguia pensar no que ele havia feito a ela. Não podia deixar ele pensar que estar em um vaso era o que ela queria. Ele, por outro lado, falava que não era essa sua intenção, seu desejo. Falava. Mas de que valem as palavras? As palavras só nos servem para serem alguma lembrança após nossa partida.
Ela não o ouvia. Ele não sabia o que fazer.

Friday, June 04, 2010

Ode a Ti

E é por isso que eu te odeio
Sempre, sempre te odiei
Desde o primeiro dia que te vi,
Te odiei.

Odiei o cheiro que você trazia para perto de mim
Odiei saber como era cada fio do teu cabelo
Odiei sentir teu corpo tão perto de mim
Odiei recusar tua boca quando colada na minha

Te odeio porque
Tudo que falas e fazes
É sempre certo.
Te odeio porque
A razão é mais tua companheira.

Te odeio por mimo menino
Que me foi dado.

Te odeio por ter esperado
Que eu falasse o que também queria.

Talvez, te odeie para sempre.
Sempre te odiei em silêncio.
Talvez te odeie só em sonhos.

Só me odeio por ter demorado tempo demais
Pra saber e dizer o quanto te odeio.

Saturday, April 17, 2010

Percurso

I
Não vou chegar à minha
Casa de praia
Sem antes caminhar por
Todo o Litoral

Quero a força da onda do mar
Derrubando minhas paredes
Quero o frescor das brisas
Renovando meus anseios
Quero o mar me tragando
Me levando para longe dessa casa...

II
Tempo, sim,
Me abata,
Mas não me bata.
Não me dê sofrimentos
Maiores do que os naturais.

Que o peso das minhas histórias
dobre minha coluna
Que a corrida disparada em socorros
lentifique meus passos
Que força dos meus abraços
acalme minhas mãos
Que a insistência em genialidade
evolua meus pensamentos
Que as lágrimas por meus amores
reforcem meu espírito

Saturday, April 10, 2010

A Marca

Andavam sempre juntos aqueles dois meninos. Aproveitavam todas as cores que lhes eram mostradas e deleitavam-se quando degradês surgiam para eles. Aquele mundo era grande demais e eles amavam sambar por tantos caminhos.
Tudo era tão enorme que se tornava impossível apreciar cada detalhe ao mesmo tempo. Selecionavam, tinham que.
Aqueles dois meninos, aqueles dois olhos estavam talhados num rosto. Eram um par que definiam a perfeição daquela face. Eram um par que quando calmamente olhados pareciam um horizonte.
Tinham o mar dentro de si, o mar e todas as suas tenebrosas variações. Tinham o céu dentro de si, o céu e toda aquela infinitude de se perder a voz. Eram um horizonte que não se reconhecia, não era possível saber onde estava a linha que dividia céu e mar - talvez, não houvesse, seriam um só.
Mas a imensidão desses olhos deixava ecoar um grito. Uma voz que se ouvia baixa. Bem baixa. Mas uma voz que naquela amplitude ecoava. Se você prestasse a devida atenção, aquela voz te chegaria alta arrombaria teu coração chutaria tuas idéias levantaria teu cansaço matava tua co...
A voz devia ser esquecida. Afinal, era uma voz que estava nos olhos e todos sabemos que lugar de voz é no ouvido ou na boca. Então, aquela voz estava errada. Devia estar. Tinha que estar...
Os pobres olhos não entendiam muito bem o que estava acontecendo com eles, passaram a vida recebendo ordens e as obedecedendo. Porém, agora não estavam muito certos do que fazer. Seus comandantes os confundiam.
Nem a massa cinzenta, nem a massa vermelha sabiam ao certo o que queriam daqueles garotos. Uma hora os mandavam fazer uma coisa, noutra já não tinham certeza do que haviam feito.
Era tudo uma confusão! Um verdadeiro nó cego!
Os olhos então se depararam com a sutileza do pensamento. Se viam olhando o passado. Ele era tão cheio de imagens... Cheio de sons, gostos, abraços...
Havia tanto passado para ser olhado. Tanto por tanto tempo sem ser dito, sem ser aceito. Tanto havia sido encoberto.
Os olhos estavam congelados. Estavam parados já fazia algum tempo. Se emudeceram com tudo aquilo. Não sabiam para onde deviam olhar.
O rosto da menina mostrava que ela era menor do que tudo o que estava sentindo e isso a deixava aflita. Não queria a dor para ela nem para ninguém.
Os olhos estáticos lembravam as cenas de sua história e faziam com que o futuro fosse ainda mais impossível de ser previsto.

Saturday, April 03, 2010

De novo?!

Era tudo surreal.
Seu coração era uma máquina, uma enorme e potente máquina. Uma multinacional jamais teria um equipamento que fosse capaz de trabalhar tão rápido e tão forte. Dava para ouvir de longe o som de suas batidas. Cada vez mais rápidas e mais fortes. Seu sangue ía escorrendo pelos seus vasos e ele podia sentir aquele palpitar até na ponta de seus dedos.
Seus olhos não sabiam se se fechavam ou permaneciam abertos. Se fechados perderiam a noção do que estava acontecedo. Se abertos não entendiam nada. Fechados deixariam ao corpo todo o sentir. Abertos tentariam gravar, analisar alguma coisa.
Suas pernas eram imóveis, completamente estagnadas. Solidificadas como uma obra bêbada de Michelangelo. Ao mesmo tempo, eram pura energia! vontade de correr, disparar! Ao mesmo tempo, vontade de enlaçar, atracar.
No peito que já rufavam tambores, o ar preenchia com dificuldade aquele espaço. Não era suficiente, jamais seria o suficiente para tudo aquilo. Mas o ar insistia em entrar. Passava descendo como uma calma brisa. Aquilo certamente não era momento de calma.
Sua boca tremia. Levemente, ela sambava em palavras e vontades. Sambava desengonçada como o menino que está aprendendo o que é música. Para onde ela devia ir? Se falasse diria alguma coisa? Mas pode falar e não ser bom. Pode fazer e ser repudiada. A boca sofria! Perdera o poder de escolha. Estava talhada por um sorriso que não a permitia muitas coisas.
Mas os braços...
Os braços eram os mais aflitos! Não sabiam se deviam se mexer!... A força que possuiam estava bamba. Movimentavam-se como os braços de um equilibrista prestes a cair. Eram nervosos, conheciam o caminho, o percurso que deviam fazer, mas de repente desaprederam. Subitamente, testavam a força, o toque. Ah! eles experimentavam o sentir! Conseguiam sentir tudo, queriam aquilo para sempre!
Mas o coração voltava ao normal, os olhos ganhavam foco, as pernas achavam seu chão, os pulmões se enchiam, a boca sentia o vento bater e os braços pendiam ao lado daquela figura tosca... O abraço havia terminado.
Agora ela já deixava novamente o corpo dele sem aqueles braços, sem aqueles laços que lhe davam tanta segurança.
Ele não entendia por que ficava tão congelado toda vez que aquilo acontecia. Não entedia por que seus braços e pernas e mãos e olhos e boca ficavam assim tão desnorteados. Da próxima vez aproveitaria ainda mais aquele momento, seria menos espantado. Ele se prometia isso! Ele se prometia isso toda vez que aqueles braços chegavam perto. Mas jamais foi capaz de cumprir.
Queria de novo, queria mais!

Tuesday, March 23, 2010

Um tanto de ficção, um tanto de verdade, um tanto de metáfora.


Sem título

Ela se olhava no espelho. Eram vinte e cinco anos que estavam na frente dela. Sentia aquela cheiro de maquiagem chegando ao seu nariz enquanto deixava suas maçãs vermelhas. Não precisava de nada daquilo, se Marina não usasse nenhuma maquiagem já seria admirada por todos. Mas entraria em cena hoje e quando cantamos devemos estar com uma presença forte.
Era uma noite qualquer para a cidade carioca, mais um dia de purgatório da beleza e do caos. A rua estaria calma se não fosse pelo movimento do bar no qual Marina se apresentaria. Se não fosse o tac-tac que os passos nervosos de um homem causavam naquele chão.
Ah, era mais um dia de cantoria! As pessoas adoravam a voz de Marina e parecia que a sua voz ficava cada vez mais impressionante só porque era elogiada. Seu microfone de estimação estava no lugar, na altura certa, sua voz estava aquecida. Começaria com o violão tocando sozinho e depois cantaria sua música favorita - não sabia ao certo o motivo mas queria começar bem aquela noite.
Quando o violão berimbou a última nota de Powell, se ouviu da multidão uma voz um tanto desafinada que ousava se fazer ouvida. Muito bem ouvida. E, por uma pessoa, ela foi reconhecida. A voz começava uma música chamada Beatriz. Do seu jeito desafinado ele convidou a estática Marina a continuar o que ele jamais faria belo.
Ela tinha os olhos azuis, talvez verdes, parados. A boca trêmula. As mãos com uma vontade de tocar aquele corpo e ao mesmo tempo fugir daquele toque.
Ela continuou a música. Cantou com a voz bêbada por algo que não sabia explicar, nem ela, nem ninguém conseguiria entender.
"Se ela dança no sétimo céu. Se ela acredita que é outro país. E se ela só decora o seu papel. E se eu pudesse entrar na sua vida?"
Sabia exatamente quais eram os versos que saiam da boca dela e quais saiam da boca dele. O olhar dele não balançava. Olhava fixo, sabia que teria que aproveitar agora a oportunidade que perdeu anos atrás de falar com Marina o quanto a amava.
"Sim, me leva para sempre, Beatriz. Me ensina a não andar com os pés no chão, para sempre é sempre por um triz"
Sua voz desafinada tomou o lugar da de Marina. As luzes baixas do bar davam a impressão de que naquele momento só havia os dois ali. Os copos, pratos, garfos e facas começaram então a ganhar vida e dançar para os dois.
"Ai, diz quantos desastres têm na minha mão, diz se é perigos a gente ser feliz."
Estavam distantes, nenhum dos dois se aproximava. Nenhum dos dois conseguia dar aquele passo. Talvez por não sentir a perna, talvez por sentir muita coisa.
"Se ela um dia despencar do céu? E se os pagantes exigirem bis? E se um arcanjo passar o chapéu?"
Ele sabia que um dos arcanjos que cruzou a vida de Marina já havia lhe mostrado como um guardião pode fazer tão mal. Ele não queria fazer isso. Ele queria provar a ela que era diferente, que dessa vez ele estava ali do lado dela para dar tudo que ainda não havia admitido.
"Se eu pudesse entrar na sua vida?"
Foi assim que a música se terminou. Aquela voz desafinada, parecia tão errada de ser escutada, tão perigoso de ser escutada. Será que vale a pena? Marina não se mexia. Só seu vestido. Seu vestido ía para frente e para trás. Ela sentiu ele tocando sua perna e imaginou que poderia ser a mão dele em vez de um vestido. Isso disparou seu coração, só de imaginar o toque dele já ficava nervosa.
Foi ouvido um sussurro. Os talheres e copos estavam congelados, esperando o que acontecia. O sussurro dizia a Marina "você é aquela que faz os outros felizes". Ele se aproximava enquanto pensava no que mais dizer. Havia ensaiado tanto mas estava incomodado por algo que o fazia esquecer as palavras. Sentia o batimento de seu coração em todas as partes do corpo. Sentiu o cheiro da brisa do mar, relaxou. Sabia que mais palavras só confundiriam a boca que falava. Deixou tudo para os olhos. Estendeu a mão e ficou esperando a de Marina.
Mas a dela não se mexia. Será que havia feito algo errado? Escapou de seus lábios "confia em mim, menina. Estou aqui para te levar para conhecermos a vida. Para te levar para sempre."
Como poderia ela saber o que fazer? É injusto a vida dar decisões tão importantes a nós mesmos, por que não pode haver alguém para se preocupar tão somente com nossos caminhos? Nada fazia sentido. Marina pensou em seu passado, relembrou o cheiro dele. Como era bom. Desceu do palco sem lhe dar a mão. Cambaleou em seus saltos, nunca havia achado estar tão preparada assim para ser aquela mulher que o show lhe pedia, que a vida lhe pedia. Chegou bem junto do corpo dele a ponto de conseguir sentir o leve encostar de seus corpos. Ele não se mexia, seu braço ainda estava estagnado como há momentos atrás. Ela deixou seu nariz a guiar ao pescoço dele. Sentiu aquele cheiro. Como era bom. Seus lábios foram até bem perto da orelha dele.
- Você nunca vai me enganar?
- Só quando fingir que estou com raiva de você.
As bocas se aproximavam, já haviam feito aquilo uma vez. Pareciam guiadas por si, pareciam aflitas por aquilo, esperavam essa oportunidade há muito tempo.
Há quem pensou que foi tudo uma grande encenação de Marina, "a cantora é também atriz!" Mas desde então ele nunca deixou de estar no palco com ela. Algumas vezes, tocava um instrumento; em outras, ajustava o equipamento. Quando achavam que ela estava sozinha, ela pensava "bobos, não sabem quem está na coxia."

Thursday, February 11, 2010

É como se eu estivesse em um quarto escuro e pela fresta das cortinas entrasse um feixe de luz. Não há como não ver. Como negar.

Eclipse


No início de tudo só havia o Sol e a Lua. Não existiam as estrelas, nuvens ou outros planetas além da Terra. Então, todos os animais que viviam na Terra se admiravam com o Sol e a Lua e passarm a acompanhar suas histórias de perto.
Um certo dia, a Lua se viu muito sozinha, afinal tudo que ela conhecia estava tão distante dela, não podia nem alcançar. Muitas das vezes, não podia nem enxergar o que havia na Terra pela própria escuridão que trazia consigo. Ela se sentia mal pois aquietava os bichos e os fazia encolher de frio.
O Sol era admirado pelos animais, os aquecia, os movimentava, mas... era outro solitário. Apesar de o Sol estar tão distante da Terra, ele jogava seus raios até aqui porque acabaou se divertindo com o que via. Todos aqueles seres pequenos... juntos. Como eles conseguiam? Como seria ter alguém?
Porém, um dia foi diferente. Acaso. Coincidência. Destino.
Algo fez com que o Sol e a Lua se encontrassem. Em um universo tão espaçoso... eles se encontraram.
Os animais, que conheciam ambos, ficaram boquiabertos com o sentimento que aquele encontro trazia a eles. Era um calor que apesar de quente era refrescante ao coração. Era como se se pudesse sentir o sangue banhando todo o seu corpo.
Sol e Lua se completavam. Perfeitamente.
Dessa união fantástica inexplicavelmente surgiram figuras, adereços à Terra e ao Universo.
Planetas se aproximaram da tríade Sol, Lua e Terra. Se criaram para embelezar o momento. As várias estrelas começaram a brilhar ao entorno da Lua. Cintilavam para deixar tudo mais encantador.
As nuvens finalmente se formaram. Surgiram bichos com o que se chamou de "asas", esses animais voavam o mais alto que podiam só para ver o encontro de amor entre Sol e Lua.
Amor. Um encontro que nem o Sol, por ser bobo, e nem a Lua, por ser feminina e misteriosa, ousavam batizar com a palavra amor.
Então, criaram um nome próprio. Só para eles. Criaram uns versos só para eles. Ouviam uma melodia só para um lembrar do outro. Era tudo só para eles, só faltava um ser realmente do outro.
Enquanto isso, todo o restante do Universo apelidou aquele encontro de Eclipse.
Pena.
Por não se revelarem um ao outro, Sol e Lua acabaram se encantando por outras coisas. Aves, estrelas, planetas. Foram se deixando. Foram se desconhecendo.
Era o fim do Eclipse.
Passaram a ser poucas as vezes que os dois se encontravam. Sempre acaso. Sempre acompanhados. Aves, estrelas, planetas, esses eram os pares que traziam.
As nuvens se negavam a ver o fim daquilo. As nuvens sabiam que não havia terminado. As nuvens decidiram sempre falar à Lua sobre o Sol e ao Sol sobre a Lua.O tempo foi passando como sempre há de passar e enquanto as nuvens esperavam, foram conhecendo a tristeza. E, por não ser possível suportar a tristeza sozinho, as nuvens criaram a chuva. Agora os animais se abrigavam e se escodiam em épocas molhadas. Nesse tempo, pensavam sobre a vida, refletiam e compartilhavam a tristeza com mais frequência que outrora.
Alguns dizem que certo dia o Sol assumiu seu amor pela Lua. Era tarde demais. A Lua, sempre tão desmedidamente linda e cheia de encantos, estava embriagada por um planeta que o Sol desconhecia.
O Sol teria então retornado sepre em turnos marcados até a Terra, deixando à Lua a opção de encontrá-lo quando quisesse. Se um dia quisesse.
Em silêncio, o Sol teria feito uma prece, o desejo mais forte que se poderia fazer. O Sol desejou tudo de bom à Lua, todo o amor que ele queria dar a ela, desejou que ela algum dia o recebesse por outros braços, ainda que desacreditasse na possibilidade. Desejou também criar e fazer florescer magníficas flores de várias cores, formas e tamanhos para que a Lua as admirasse quando fosse visitar a Terra. O Sol pintava um mundo de fantasias, uma Terra do Nunca cheia de cores e imagens que esperava apresentar um dia à Lua.
A Terra espera pelo Eclipse final, pelo encontro de amor mais bonito que todos já conheceram.
Sol e Lua juntos em um momento de raro esplendor.