Sunday, November 07, 2010

Em memória.

Já perguntei para Deus muitas vezes o que seria justiça? O que seria justo? Afinal, vejo tantas coisas acontecerem da forma errada... Ele ainda não me respondeu, mas espero que esteja ouvindo minhas preces...

Há quase dois anos atrás, chegávamos na Faculdade de cabeça erguida.

Passamos para Medicina!

Passamos para a UFF!

Aos poucos, fomos nos conhecendo, somos 80 alunos e isso leva algum tempo para acontecer. Aprendemos os trejeitos, manias e frescuras de cada um. Formamos nossos grupos de afinidade e, ainda que com tanta diversidade, fizemos uma turma unida. Resolvemos então nos batizar de Caldeirão – mal sabíamos o significado que esse nome tomaria.

Desse grupo de alunos, me cabe, infelizmente, falar de uma em especial.

Há mais ou menos um ano atrás, nossa companheira de sala XX descobriu possuir uma das mais temidas doenças que nós vamos estudar, o câncer. Exaustivamente vamos falar sobre formas e mais formas de câncer só para descobrir nossa pequenez, nossa incapacidade diante de tantas formas de sofrimento humano.

Hoje, vi pessoas perdidas, ou melhor, imersas em emoções após saberem da notícia do falecimento da Alessandra. Essa tristeza, pronunciada em lágrimas e passos desaprumados, deve ser revisitada só para que lembremos seu motivo de existir...



Somos como quadros de Picasso, rostos e corpos sem uma forma muito bem definida, almas que se completam com cada pessoa que passa pela nossa vida. Como fractais, essas pessoas que rabiscam a nossa existência são capazes, se tivermos sorte, de nos deixar uma memória, uma importância e uma necessidade infinita.

Não duvido em nenhum instante que a XX tenha feito isso com inúmeras pessoas que passaram por sua vida.



Enquanto suas amigas ajudavam a chuva que caia do céu a ter mais água quando chegasse ao chão, percebi mais uma vez como é triste a perda... O que se deve falar nesse momento?... Meus pêsames?... Se não sei reagir diante dessas amigas, o que poderia dizer para a mãe ou qualquer outra pessoa tão importante?...

Bem, não há muito que se possa dizer, às vezes a ordem da despedida é alterada e não conseguimos fazer nada além de desabar em braços que esperamos que nos agüentem.

Porém, foi vendo o pranto daquelas meninas que percebi, além da tristeza, a beleza.

Havia naquele choro a beleza do cuidado, a beleza da fraternidade, a beleza do amor. Sem dúvida, havia uma paixão incontrolável, que misturada com sal e água, se faz passar por tristeza somente. Mas o motivo daquele choro não era a dor, o motivo daquele choro era algo muito maior, muito mais significativo. A dor vai embora, afinal, quantas vezes já nos machucamos? O que nos faz de fato fracos para a despedida é o amor...

Por isso, queria escrever algo hoje... queria lembrar àqueles que choraram e chorarão que se sentem uma dor angustiante, é porque vocês amam demais. É esse amor que imprimirá nos seus peitos a saudade. E é essa saudade que eternizará a nossa companheira.



Se nos fizemos um Caldeirão é só porque é preciso uma panela gigante para abranger tantas personalidades, tanto companheirismo. Na lista de ingredientes imersos nessa caldeira, agora faltará um. Mas, como com o sal, só uma pitada de alguns ingredientes é suficiente para fazer do gosto algo completamente único.

Levaremos para frente o nome de nossa amiga XX e lembraremos de guardar um lugar para ela junto aos primeiros bancos daqui a quatro anos.

Hoje, minha prece é para que haja paz para essa menina, independente do que isso quer dizer para cada um, e para que haja força e calma para aqueles que agora possuem o amor e a saudade em seus peitos.





Que as lágrimas não nos enganem...


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