Saturday, April 17, 2010

Percurso

I
Não vou chegar à minha
Casa de praia
Sem antes caminhar por
Todo o Litoral

Quero a força da onda do mar
Derrubando minhas paredes
Quero o frescor das brisas
Renovando meus anseios
Quero o mar me tragando
Me levando para longe dessa casa...

II
Tempo, sim,
Me abata,
Mas não me bata.
Não me dê sofrimentos
Maiores do que os naturais.

Que o peso das minhas histórias
dobre minha coluna
Que a corrida disparada em socorros
lentifique meus passos
Que força dos meus abraços
acalme minhas mãos
Que a insistência em genialidade
evolua meus pensamentos
Que as lágrimas por meus amores
reforcem meu espírito

Saturday, April 10, 2010

A Marca

Andavam sempre juntos aqueles dois meninos. Aproveitavam todas as cores que lhes eram mostradas e deleitavam-se quando degradês surgiam para eles. Aquele mundo era grande demais e eles amavam sambar por tantos caminhos.
Tudo era tão enorme que se tornava impossível apreciar cada detalhe ao mesmo tempo. Selecionavam, tinham que.
Aqueles dois meninos, aqueles dois olhos estavam talhados num rosto. Eram um par que definiam a perfeição daquela face. Eram um par que quando calmamente olhados pareciam um horizonte.
Tinham o mar dentro de si, o mar e todas as suas tenebrosas variações. Tinham o céu dentro de si, o céu e toda aquela infinitude de se perder a voz. Eram um horizonte que não se reconhecia, não era possível saber onde estava a linha que dividia céu e mar - talvez, não houvesse, seriam um só.
Mas a imensidão desses olhos deixava ecoar um grito. Uma voz que se ouvia baixa. Bem baixa. Mas uma voz que naquela amplitude ecoava. Se você prestasse a devida atenção, aquela voz te chegaria alta arrombaria teu coração chutaria tuas idéias levantaria teu cansaço matava tua co...
A voz devia ser esquecida. Afinal, era uma voz que estava nos olhos e todos sabemos que lugar de voz é no ouvido ou na boca. Então, aquela voz estava errada. Devia estar. Tinha que estar...
Os pobres olhos não entendiam muito bem o que estava acontecendo com eles, passaram a vida recebendo ordens e as obedecedendo. Porém, agora não estavam muito certos do que fazer. Seus comandantes os confundiam.
Nem a massa cinzenta, nem a massa vermelha sabiam ao certo o que queriam daqueles garotos. Uma hora os mandavam fazer uma coisa, noutra já não tinham certeza do que haviam feito.
Era tudo uma confusão! Um verdadeiro nó cego!
Os olhos então se depararam com a sutileza do pensamento. Se viam olhando o passado. Ele era tão cheio de imagens... Cheio de sons, gostos, abraços...
Havia tanto passado para ser olhado. Tanto por tanto tempo sem ser dito, sem ser aceito. Tanto havia sido encoberto.
Os olhos estavam congelados. Estavam parados já fazia algum tempo. Se emudeceram com tudo aquilo. Não sabiam para onde deviam olhar.
O rosto da menina mostrava que ela era menor do que tudo o que estava sentindo e isso a deixava aflita. Não queria a dor para ela nem para ninguém.
Os olhos estáticos lembravam as cenas de sua história e faziam com que o futuro fosse ainda mais impossível de ser previsto.

Saturday, April 03, 2010

De novo?!

Era tudo surreal.
Seu coração era uma máquina, uma enorme e potente máquina. Uma multinacional jamais teria um equipamento que fosse capaz de trabalhar tão rápido e tão forte. Dava para ouvir de longe o som de suas batidas. Cada vez mais rápidas e mais fortes. Seu sangue ía escorrendo pelos seus vasos e ele podia sentir aquele palpitar até na ponta de seus dedos.
Seus olhos não sabiam se se fechavam ou permaneciam abertos. Se fechados perderiam a noção do que estava acontecedo. Se abertos não entendiam nada. Fechados deixariam ao corpo todo o sentir. Abertos tentariam gravar, analisar alguma coisa.
Suas pernas eram imóveis, completamente estagnadas. Solidificadas como uma obra bêbada de Michelangelo. Ao mesmo tempo, eram pura energia! vontade de correr, disparar! Ao mesmo tempo, vontade de enlaçar, atracar.
No peito que já rufavam tambores, o ar preenchia com dificuldade aquele espaço. Não era suficiente, jamais seria o suficiente para tudo aquilo. Mas o ar insistia em entrar. Passava descendo como uma calma brisa. Aquilo certamente não era momento de calma.
Sua boca tremia. Levemente, ela sambava em palavras e vontades. Sambava desengonçada como o menino que está aprendendo o que é música. Para onde ela devia ir? Se falasse diria alguma coisa? Mas pode falar e não ser bom. Pode fazer e ser repudiada. A boca sofria! Perdera o poder de escolha. Estava talhada por um sorriso que não a permitia muitas coisas.
Mas os braços...
Os braços eram os mais aflitos! Não sabiam se deviam se mexer!... A força que possuiam estava bamba. Movimentavam-se como os braços de um equilibrista prestes a cair. Eram nervosos, conheciam o caminho, o percurso que deviam fazer, mas de repente desaprederam. Subitamente, testavam a força, o toque. Ah! eles experimentavam o sentir! Conseguiam sentir tudo, queriam aquilo para sempre!
Mas o coração voltava ao normal, os olhos ganhavam foco, as pernas achavam seu chão, os pulmões se enchiam, a boca sentia o vento bater e os braços pendiam ao lado daquela figura tosca... O abraço havia terminado.
Agora ela já deixava novamente o corpo dele sem aqueles braços, sem aqueles laços que lhe davam tanta segurança.
Ele não entendia por que ficava tão congelado toda vez que aquilo acontecia. Não entedia por que seus braços e pernas e mãos e olhos e boca ficavam assim tão desnorteados. Da próxima vez aproveitaria ainda mais aquele momento, seria menos espantado. Ele se prometia isso! Ele se prometia isso toda vez que aqueles braços chegavam perto. Mas jamais foi capaz de cumprir.
Queria de novo, queria mais!