Saturday, April 10, 2010

A Marca

Andavam sempre juntos aqueles dois meninos. Aproveitavam todas as cores que lhes eram mostradas e deleitavam-se quando degradês surgiam para eles. Aquele mundo era grande demais e eles amavam sambar por tantos caminhos.
Tudo era tão enorme que se tornava impossível apreciar cada detalhe ao mesmo tempo. Selecionavam, tinham que.
Aqueles dois meninos, aqueles dois olhos estavam talhados num rosto. Eram um par que definiam a perfeição daquela face. Eram um par que quando calmamente olhados pareciam um horizonte.
Tinham o mar dentro de si, o mar e todas as suas tenebrosas variações. Tinham o céu dentro de si, o céu e toda aquela infinitude de se perder a voz. Eram um horizonte que não se reconhecia, não era possível saber onde estava a linha que dividia céu e mar - talvez, não houvesse, seriam um só.
Mas a imensidão desses olhos deixava ecoar um grito. Uma voz que se ouvia baixa. Bem baixa. Mas uma voz que naquela amplitude ecoava. Se você prestasse a devida atenção, aquela voz te chegaria alta arrombaria teu coração chutaria tuas idéias levantaria teu cansaço matava tua co...
A voz devia ser esquecida. Afinal, era uma voz que estava nos olhos e todos sabemos que lugar de voz é no ouvido ou na boca. Então, aquela voz estava errada. Devia estar. Tinha que estar...
Os pobres olhos não entendiam muito bem o que estava acontecendo com eles, passaram a vida recebendo ordens e as obedecedendo. Porém, agora não estavam muito certos do que fazer. Seus comandantes os confundiam.
Nem a massa cinzenta, nem a massa vermelha sabiam ao certo o que queriam daqueles garotos. Uma hora os mandavam fazer uma coisa, noutra já não tinham certeza do que haviam feito.
Era tudo uma confusão! Um verdadeiro nó cego!
Os olhos então se depararam com a sutileza do pensamento. Se viam olhando o passado. Ele era tão cheio de imagens... Cheio de sons, gostos, abraços...
Havia tanto passado para ser olhado. Tanto por tanto tempo sem ser dito, sem ser aceito. Tanto havia sido encoberto.
Os olhos estavam congelados. Estavam parados já fazia algum tempo. Se emudeceram com tudo aquilo. Não sabiam para onde deviam olhar.
O rosto da menina mostrava que ela era menor do que tudo o que estava sentindo e isso a deixava aflita. Não queria a dor para ela nem para ninguém.
Os olhos estáticos lembravam as cenas de sua história e faziam com que o futuro fosse ainda mais impossível de ser previsto.

1 comment:

Angela Borges said...

Isso me lembrou uma coisa...

Bom texto! :)