Tuesday, June 22, 2010

Durante um conversa na Faculdade...

- Pensa em um momento bom da sua vida e me diz alguma coisa que está nele.
- Um ônibus.
- Uma faixa etária.
- 19, 20 anos.

O ônibus (trechos)

Talvez, nos forcem a ir para a escola somente para que convivamos com outras pessoas além da nossa família. Afinal, são tantas coisas que aprendemos para não usar, nem sequer lembramos de tantas outras.
Bem, Pedro não sabia ao certo por que acordava todo dia às cinco horas e trinta minutos da manhã, mas fazia isso há tanto tempo e tantos o mandavam continuar fazendo que mantinha seu hábito.
Seus sonhos sempre terminavam com um grande terremoto. Conforme seus olhos se abriam via aquela mãe (impiedosa) o balançando e dizendo "Deus ajuda quem cedo madruga!" Ainda sem forças para dizer qualquer coisa, só pensava "Deus... humpf!" Ora, se Deus quisesse que acordássemos tão cedo assim teria feito alguma coisa dentro de nós para que nos colocássemos de pé assim que o sol encostasse em nossas pálpebras. Mas logo após se desculpar com o do andar de cima, dirigia seus xingamentos a Getúlio e se punha de pé.
Enquanto tropeçava em móveis da casa , se dirigia ao banheiro e abria chuveiro. Ah, agora sim começou o dia! Seus olhos estavam abertos e não mais levaria sua canela até a fria madeira daquelas mesinhas, cômodas e cama enquanto caminhava de volta para o quarto.
Vestindo sua roupa, ouvia sua mãe gritar que ele havia molhado a casa inteira. Gostava de implicar com ela e depois roubar-lhe um beijo e um abraço antes de ela - com um sorriso de dois andares - reclamar de seu bafo matinal.
Já atrasado, corria de volta ao banheiro, escovava seus dentes e se perfumava para sair correndo de casa e ver o ônibus ao longe se aproximando de seu ponto de parada. Era esse pedaço da manhã que ele mais gostava. Respirava fundo e dava um último pique na sua corrida para alcançar o ponto e já arfando e estendia o braço. Agora era Pedro quem abria um sorriso enorme. Desejava um bom dia ao motorista e passava pela roleta antes de alcançar com os olhos outro grande sorriso estampado em um rosto.
"Sempre chega suado, garoto..." era o que Júlia lhe dizia a cada dia de um jeitinho diferente. Ela nem estudava com ele, mas se conheceram por acaso em um dia chuvoso - sempre se deve andar com um guarda chuva, dizia sua mãe - e desde então conversavam durante seus caminhos cotidianos, já que seus pontos de parada não eram muito distantes.
É... definitivamente, a escola serve para nos fazer conhecer outras pessoas...
A conversa entre os dois fluia fácil por temas pessoais, filosóficos, capas de jornais e devez em quando Júlia até o ajudava com a maldita matemática. Porém, ao mesmo tempo que as palavras não se continham dentro de suas bocas, e assim sempre queriam o fazer, às vezes os dois se calavam e um estranho silêncio era criado naquele ônibus. Os dois não sabiam ao certo como agir mas logo o balanço do ônibus os punha tão próximos que as palavras se desengasgavam.
Aquele chacoalhar do ônibus era a dança cotidiana dos dois. Provavelmente, não há um casal que dance valsa ou tango todo santo dia, mas há vários que bailam de acordo com os motoristas dos coletivos. Dependendo do motorista, até sambam.
Após ser interrompido por professores, Pedro ajeitava seu cabelo e partia para o pontode ônibus, animado com o reencontro.
Assim seguiam seus meses letivos até que em certa semana Júlia se comportou tão diferente... Pedro não entendeu muito bem o olhar distante de Júlia, parecia tão triste, mas se recusou a falar o motivo daquele silêncio cabisbaixo. Ele tentava de tudo para animar amiga, criava até dúvidas de matemática que ele não tinha. Isso sempre a colocava para cima, mas dessa vez não surtiu efeito...
Foram quatro dias de angústia constante. No último dia da semana, Pedro decidiu se sentar em outro banco. Sem Júlia. Achava que tinha perdido seu charme, tornara-se chato e sem graça para amiga; e o pior era que não entendia o motivo disso. Júlia o olhou distante dela, conterceu o rosto e se sentou ao lado dele. Olharam-se nos olhos e ela disse um "não" tão carinhoso enquanto pegava a mão dele que quebrou todas as defesas que Pedro havia preparado.
Como homens são burros, tudo fazia sentido agora. Aquela mão estava tão quente e nervosa que se sentia até mesmo o coração batendo quando se tocava ela. Só não era possível dizer de quem era essa mão.
Pedro fechou seus olhos e se aproximou de Júlia calculando os segundos que demorariam até que seus lábios se encontrassem. Errou o cálculo. Esquecera que a dança do ônibus os anteciparia. Separaram-se e riram um do outro antes de voltarem a se beijar.

Sunday, June 20, 2010

Boa partida, Saramago... fará falta...

Uma Rosa

Certa vez, minha vó me contou uma história de um menino por volta da minha idade, com cabelos mais ou menos como os meus...
Esse garoto andando certo dia pela rua se deparou com um jardim lindo. O problema era que esse jardim estava cercado por grades e para entrar devia pedir permissão. Passou a pegar aquele caminho com mais frequência, até que se percebeu indo lá todo dia depois da escola. Só para sentir o cheiro daquelas flores. Só para ver aquele quadro tão bonito, que a cada dia se mostrava de um jeito.
Mesmo que passando por ali demorasse mais para chegar em casa e ouvisse sua mãe reclamando, vez ou outra, sentia algo mais forte, algo que o levava para lá.
Foi exatamente isso que um dia fez pular da boca dele "mãe, me deixa entrar naquele jardim?" O engraçado foi que ele nunca esparava que sua mãe, segurando-o pela mão, fosse levar seu pequeno corpo tão amedrontado até lá. Aquela mão lhe deu tanta segurança. Mal sabia ela o medo que ele sentia daquele jardim. Um medo que existia sem motivo a não ser pelo medo que nós temos de tudo que é maior que nós mesmos.
Enquanto dava os primeiros passos por aquele jardim tão grande, logo se deparou com uma flor que lhe chamou atenção.
Era uma rosa. São sempre as rosas. Essas danadas que simplesmente exalam perfumes...
Aquela rosa possuia pétalas tão simples e tão bem arrumadas. Formavam um desenho lindo. E possuiam tanta cor! Ah, era um rosa tão único que nunca antes lhe havia passado na cabeça que o rosa podia representar tão bem a vida. O menino logo se apaixonou pela rosa.
Esperava, então, o tempo passar para se encontrar com ela.
Aos poucos, ela foi se apaixonando também e os dois brincavam de trocar carinhos e delicadezas, olhares e anseios. Cada um da sua forma, dizia para o outro tudo que se pode ser dito.
(...)
Mas como ninguém conseguiu segurar o tempo ainda, a rosa foi se tornando vermelha e o menino foi se tornando complicado.
Quando ele viu de novo aquela rosa, não teve dúvidas ao a reconhecer. Podia ter mudado de cor, mas era a mesma rosa de antes.
Então, o menino se deixou levar pela sua vontade cega e foi logo abraçando a rosa em seus dedos enquanto a puxava para fora do jardim. A rosa resisitiu o tanto que pôde para sair da terra e quando não aguentou mais acabou por furar o dedo do menino.
Ele, com uma lágrima no olho, não entendeu por que a rosa o deixaria chorando. Voltou para casa correndo e se escondendo da mãe foi se olhar no espelho. Talvez tenha se encarado por um minuto, talvez tenha se encarado por umas horas. O fato é que logo em seguida ele saiu em mais uma disparada para o jardim. Procurou sua rosa e demorou até a encontrar.
Ela estava se escondendo. Sem uma pétala, ela não queria mais os carinhos do menino. Ele tentou explicar, falou que seus carinhos eram honestos e sinceros, que todos cometem enganos. Ela não ouvia, só conseguia pensar no que ele havia feito a ela. Não podia deixar ele pensar que estar em um vaso era o que ela queria. Ele, por outro lado, falava que não era essa sua intenção, seu desejo. Falava. Mas de que valem as palavras? As palavras só nos servem para serem alguma lembrança após nossa partida.
Ela não o ouvia. Ele não sabia o que fazer.

Friday, June 04, 2010

Ode a Ti

E é por isso que eu te odeio
Sempre, sempre te odiei
Desde o primeiro dia que te vi,
Te odiei.

Odiei o cheiro que você trazia para perto de mim
Odiei saber como era cada fio do teu cabelo
Odiei sentir teu corpo tão perto de mim
Odiei recusar tua boca quando colada na minha

Te odeio porque
Tudo que falas e fazes
É sempre certo.
Te odeio porque
A razão é mais tua companheira.

Te odeio por mimo menino
Que me foi dado.

Te odeio por ter esperado
Que eu falasse o que também queria.

Talvez, te odeie para sempre.
Sempre te odiei em silêncio.
Talvez te odeie só em sonhos.

Só me odeio por ter demorado tempo demais
Pra saber e dizer o quanto te odeio.