Sunday, June 20, 2010

Boa partida, Saramago... fará falta...

Uma Rosa

Certa vez, minha vó me contou uma história de um menino por volta da minha idade, com cabelos mais ou menos como os meus...
Esse garoto andando certo dia pela rua se deparou com um jardim lindo. O problema era que esse jardim estava cercado por grades e para entrar devia pedir permissão. Passou a pegar aquele caminho com mais frequência, até que se percebeu indo lá todo dia depois da escola. Só para sentir o cheiro daquelas flores. Só para ver aquele quadro tão bonito, que a cada dia se mostrava de um jeito.
Mesmo que passando por ali demorasse mais para chegar em casa e ouvisse sua mãe reclamando, vez ou outra, sentia algo mais forte, algo que o levava para lá.
Foi exatamente isso que um dia fez pular da boca dele "mãe, me deixa entrar naquele jardim?" O engraçado foi que ele nunca esparava que sua mãe, segurando-o pela mão, fosse levar seu pequeno corpo tão amedrontado até lá. Aquela mão lhe deu tanta segurança. Mal sabia ela o medo que ele sentia daquele jardim. Um medo que existia sem motivo a não ser pelo medo que nós temos de tudo que é maior que nós mesmos.
Enquanto dava os primeiros passos por aquele jardim tão grande, logo se deparou com uma flor que lhe chamou atenção.
Era uma rosa. São sempre as rosas. Essas danadas que simplesmente exalam perfumes...
Aquela rosa possuia pétalas tão simples e tão bem arrumadas. Formavam um desenho lindo. E possuiam tanta cor! Ah, era um rosa tão único que nunca antes lhe havia passado na cabeça que o rosa podia representar tão bem a vida. O menino logo se apaixonou pela rosa.
Esperava, então, o tempo passar para se encontrar com ela.
Aos poucos, ela foi se apaixonando também e os dois brincavam de trocar carinhos e delicadezas, olhares e anseios. Cada um da sua forma, dizia para o outro tudo que se pode ser dito.
(...)
Mas como ninguém conseguiu segurar o tempo ainda, a rosa foi se tornando vermelha e o menino foi se tornando complicado.
Quando ele viu de novo aquela rosa, não teve dúvidas ao a reconhecer. Podia ter mudado de cor, mas era a mesma rosa de antes.
Então, o menino se deixou levar pela sua vontade cega e foi logo abraçando a rosa em seus dedos enquanto a puxava para fora do jardim. A rosa resisitiu o tanto que pôde para sair da terra e quando não aguentou mais acabou por furar o dedo do menino.
Ele, com uma lágrima no olho, não entendeu por que a rosa o deixaria chorando. Voltou para casa correndo e se escondendo da mãe foi se olhar no espelho. Talvez tenha se encarado por um minuto, talvez tenha se encarado por umas horas. O fato é que logo em seguida ele saiu em mais uma disparada para o jardim. Procurou sua rosa e demorou até a encontrar.
Ela estava se escondendo. Sem uma pétala, ela não queria mais os carinhos do menino. Ele tentou explicar, falou que seus carinhos eram honestos e sinceros, que todos cometem enganos. Ela não ouvia, só conseguia pensar no que ele havia feito a ela. Não podia deixar ele pensar que estar em um vaso era o que ela queria. Ele, por outro lado, falava que não era essa sua intenção, seu desejo. Falava. Mas de que valem as palavras? As palavras só nos servem para serem alguma lembrança após nossa partida.
Ela não o ouvia. Ele não sabia o que fazer.

No comments: