Tuesday, March 01, 2011

História popular


Hoje, conversei com pessoas vivas, estudei em corpos mortos e vi a miséria de uma criança me pedir comida. Quantas histórias há por trás dessas vidas, dessas minúsculas existências para o universo, mas tão gigantes para cada um deles.
Com o paciente, conversei e ouvi sua história para aprender a ajudá-lo; aos corpos mortos, deixo meus agradecimentos pois irão ajudar a socorrer tantos vivos; junto com a criança vai minha tristeza pois não há comida que eu dê que seja capaz de dar vida aquela pequena criatura - que ainda será tão maltratada pelo mundo.
Busco-me pela medicina pois é por lá que vou achando meu coração, é por lá que de alguma forma me acho mais próximo da humanidade e com mais humanidade, é por lá que me vejo cada vez mais distante da minha soberba, da minha discriminação, da minha raiva, da minha pretensão, da minha sabedoria. A medicina me mostra como sou pequeno, frágil e incompetente, me ensina como eu preciso de bons amigos, de momentos de silêncio e fala, de dias de choro e riso, de horas de silêncio e canção.
Bobo é aquele que passa pelas salas de aula sem prestar atenção na vida que pode entrar em sua alma. Não há anel de formatura que valha mais que a vida de alguém.
Com tudo isso em mente, com tudo isso no meu peito, me exacerba a felicidade, o bem-estar por ser incompleto e querer ser maior que o meu corpo, mais longo que o meu tempo, mais dedicado que minha necessidade social permite. Ainda assim, me falta um grito que meu coração precisava gritar, um suspiro que meus olhos gostariam de dar; mas me calo. Não pela soberba ou bobeira, pois isso deixei para trás quando comecei a me conhecer.
Calo-me pelo medo de ter medo de o futuro fugir ao meu desejo; calo-me pois o silêncio que pronuncio impede que sons tão ríspidos me derrubem.
Acho que quando alma sem corpo escolhi nascer carioca para falar o português brasileiro do tipo carioquês. Ora, que outra língua seria mais completa, mais bela, mais cheia de figuras que essa? Tenho tantas palavras e combinações para usar que mal preciso tomar fôlego a cada digitada.
Mas acho que da próxima vez - torço para que haja pois ainda quero fazer muito - venho com uma língua diferente.
Não imaginava que eu pudesse despencar tanto e por tanto tempo com poucas palavras de português. Essa língua era para "ser como um canto de passarinho".
Quem diria que após ler tanto de tantos livros - médicos ou não -, falar com tantas pessoas, passar por tantas experiências, criar tantas idéias, achar tantas respostas... quem diria que o português me faltaria para dizer:
Saudades de você, não imagina a falta que o seu rosto me faz. Espero que esteja feliz. Vou bem. Espero por você. Seja como for, espero por você.

5 comments:

Anonymous said...

Eu tenho tanto orgulho de você... é uma das pessoas mais especiais que eu conheço e não preciso dizer "não mude nunca" por que sei que isso é você de verdade... não vai mudar... não pode mudar...

O mundo precisa de mais pessoas assim, mas acho que é quase impossivel.. eu mal acredito que você exista.. acho verdadeiramente admiravel o seu envolvimento com tudo o que te cerca.
Tenho tanto orgulho...

Mas quanta teimosia dentro dessa cabeça também...

Hassan ou Rahhal said...

Obrigado, pessoa anônima!
Será que é teimosia?:p

Anonymous said...

é teimosia, pode acreditar...

Hassan ou Rahhal said...

Se é quem eu estou pensando, fico muito feliz de ver seu comentário, inspiração (se assim posso te chamar, por tantas ocasiões) (mas tenho medo de estar errado).
Se puder, fala isso no meu olho, vai me fazer tão bem. Tanto a primeira, como a segunda parte.
Obrigado...

Anonymous said...

Olha eu me metendo, aí Deus meu!!!

Acho que não, não é teimosia.

É vontade, muita vontade.

"Engolir sentimentos só nos faz sermos pessoas mais brutas e tristes ao longo da vida, a felicidade ou a tristeza que vem a partir dessa atitude nos engrandece, alivia. Faz parte da vida."

Bater na mesma tecla várias vezes, não é ser teimoso, é realmente querer muito isso.

Bem acho isso.